terça-feira, 24 de agosto de 2010

Especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação



ATIVIDADE PRÁTICA 12

Muitas das obras que estudamos até aqui abordam, cada qual à sua maneira, questões relacionadas ao corpo humano. Vimos, por exemplo, como os trabalhos minimalistas e a land art envolvem a presença física e a percepção espacial do espectador; como o neoconcretismo brasileiro explora os sentidos corporais do tato e do movimento; e como diversos estilistas e designers reavaliaram a relação entre o corpo e os materiais, formas e conceitos de roupas ou objetos. Além disso, o texto de Charbelly Estrella deixa claro que o agenciamento social do corpo sempre abarca questões bem mais profundas do que a simples proteção física.
Agora, desenvolva um trabalho tomando como ponto de partida uma questão relacionada ao corpo, que pode ou não ser ligada ao vestuário. Reflita: que significados você atribui ao corpo? Pense na importância do corpo nas artes visuais, não somente como tema e objeto, mas também como núcleo sensorial que propicia todas as nossas experiências espaciais e temporais.
Para realizar seu trabalho, você pode empregar quaisquer recursos ou linguagens e, se quiser, pode interpretar uma dessas sugestões:
a) escala humana – a relação entre as dimensões do corpo e dos demais objetos;
b) os sentidos (tato, olfato, audição, paladar, visão);
c) o envelhecimento;
d) os discursos e valores culturais relacionados ao corpo, suas imagens e representações;
e) as interações entre os corpos;
f) as relações entre interior e exterior mediadas pela pele;
g) os processos orgânicos internos (digestão, circulação, respiração, transpiração, etc.).

Seu trabalho terá como referência um grupo de três a cinco obras, de qualquer linguagem ou campo de criação visual, que você vai pesquisar e selecionar nos materiais do curso, na Internet ou em outras fontes de seu interesse. Defina a sua questão a partir de diálogos com essas obras de referência e prepare a sua apresentação visual, que ocorrerá no próximo encontro presencial do curso. Além disso, elabore um texto, com no máximo duas laudas de extensão, que exponha e explique a sua questão, bem como a interpretação visual que dela realizou. Nesse mesmo texto, comente as relações que estabeleceu entre as obras de referência escolhidas e o trabalho criado.
Envie seu texto ao tutor.

O CORPO PÓS-ORGÂNICO – Danton Cavalcante Dantas

Desde os primórdios da Revolução Industrial o homem sonha poder incorporar a máquina ao seu corpo, seja para obter poderes sobre-humanos ou atingir a imortalidade. Nos movimentos modernistas, a arte exalta as conquistas tecnológicas, muitas vezes rejeitando as limitações da anatomia humana e criando novas percepções sobre nosso corpo.
A reação modernista ao academicismo vigente optou pela representação revolucionária do corpo associada à estética das máquinas, que assumiam um papel fundamental na construção de um novo estilo de vida baseado no desenvolvimento tecnológico.
Obras como o figurino de Malevich para a ópera “Vitória sobre o sol”, a pintura “A refeição” de Léger, os filmes “Metropolis” de Fritz Lang, “Ballet Mecânico” de Léger e as montagens dadaístas de Hausmann, que articulam partes do corpo com outros elementos, são exemplos da visão lírica dos movimentos modernistas sobre a relação do corpo com a tecnologia. A representação estética do corpo-máquina na arte acompanhou as transformações das cidades em grandes metrópoles, os avanços da ciência e da indústria e o desenvolvimento da cultura de massas.
Podemos dizer que, antropologicamente, o corpo evolui com o tempo, pois começamos a utilizar novas tecnologias como extensões do nosso corpo. Tornou-se imprescindível o uso cotidiano de diversos aparatos que “precisam” ser carregados conosco para todos os lugares: celulares, pen-drives, ipods, palmtops, notebooks, marca-passos, aparelhos auditivos, próteses ortopédicas, entre muitos outros equipamentos que ainda nem sonhamos possuir.
Vivemos em uma profusão de objetos com os mais variados estilos de design, cores e materiais, numa situação semelhante ao fenômeno estético percebido na “A Grande Exposição de Londres” em 1851, quando foi apresentada toda uma série de extravagantes equipamentos advindos da Revolução Industrial.
Na busca de uma solução para esta confusão estética, o design padroniza ou cria uma tendência que é logo seguida pela concorrência - uma espécie de modismo -, como por exemplo, a aparência vitrificada dos ícones da interface gráfica dos computadores da Apple, que imediatamente foi copiada pela Microsoft para o Windows e foi posteriormente aplicada ao design de produtos físicos tão diversos como equipamentos eletrônicos e automóveis.
Tendo em vista a capacidade ilimitada de reorganização do capitalismo para direcionar a produção industrial às necessidades dos consumidores, não será surpresa o surgimento de uma nova categoria de produtos para dotar o corpo humano de equipamentos capazes de saciar tal demanda tecnológica. A informática, a engenharia genética, a nanotecnologia avançam em suas tentativas de intervir tecnicamente nos organismos vivos.
O ser humano então se encaminha para uma mutação antropológica, diferente, porém, da visão epistemológica sonhada pelos modernistas, onde o corpo do homem-máquina seria equipado com aparatos tecnológicos, mas continuaria com sua essência espiritual. O homem passaria agora a ser “escaneado”, “digitalizado” e posteriormente “editado” para se tornar compatível com as tecnologias, as condições do meio ambiente e do meio social. Segundo Maria P. Sibilia1 , a natureza humana deixaria de ter limites fixos e rígidos, sendo possível “reprogramá-la” em suas características e funções para muito além do que costumávamos conhecer como “humano”.
Podemos experimentar tal mutação antropológica em alguns jogos eletrônicos e programas de redes sociais. O ambiente de softwares como o Second-Life ou jogos em rede como o Lineage, permitem uma imersão sensorial e psíquica em mundos virtuais onde se pode configurar a aparência e habilidades dos usuários (avatares) que possuem objetivos e necessidades sociais diferentes do mundo real.
Neste trabalho prático foi utilizado o conceito de modificação corporal e sensorial advindos da necessidade da utilização cotidiana de diversos aparatos tecnológicos. Foi criado um infográfico, a partir de um auto-retrato, onde foram adicionadas digitalmente imagens de equipamentos eletrônicos, vestimentas, sondas médicas, implantes corporais entre outros produtos disponíveis atualmente em sites de venda pela internet.
Essa montagem procurou se espelhar na lógica da produção da indústria da moda que se inspira em movimentos musicais e na vestimenta dos jovens adeptos, que é ao mesmo tempo uma forma de arte e uma maneira de comunicação auto-referente dentro do universo da cultura de massa. Seguimos a estética Post-Punk, que é interpretada como uma absorção da ética "faça-você-mesmo” do movimento Punk sem a rigidez de sua conduta ideológica. Buscamos também influências de outros estilos musicais como o EBM, o Dark-Electro, o Industrial e o Aggrotech, que de modo geral, formam sub-culturas que se caracterizam pelo pessimismo em relação aos destinos da humanidade num mundo pós-industrial e “pré-apocalíptico”.
Foi realizada também uma pesquisa de artefatos da indústria bélica, que historicamente produz grandes avanços na tecnologia e no design. Foi estudada uma série de protótipos do exército americano que desenvolve armaduras, equipamentos de comunicação, sensores high-tech e kits de sobrevivência para seus soldados utilizarem nos campos de batalha, geralmente inóspitos para o ser humano em sua condição natural.


1 Maria Paula Sibilia é graduada em Ciências da Comunicação, pela Universidade de Buenos Aires (UBA), mestre na mesma área, pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Saúde Coletiva, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é professora no Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autora de “O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002)”.

1 comentário:

Alana Borges disse...

Olá Danton, pesquisando sobre a especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação do Senac acabei achando seu blog. Achei seus trabalho bem interessantes e queria saber se você ainda está cursando ou se já terminou a especialização e o que acha ou achou? Compensou?! Estou pensando em fazer e queria a opinião de alguém que fez ou faz o curso. Se naum for pedir de mais e você puder me responder. Meu e-mail é: alanafoto@gmail.com. Muito obrigada!
E seu blog tá na minha lista de favoritos!
Abraços